Etnocentrismo e relativismo cultural

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

Qual a diferença entre etnocentrismo e relativismo cultural?

Etnocentrismo é a concepção de membros de uma cultura ou grupo social como sendo o centro, o normal, e superior as demais. Já o relativismo cultural é baseado na ideia do outro (alteridade) como sendo relativa, não há um modelo cultural de referência.

O etnocentrismo é uma espécie de lente pela qual todas as culturas são vistas e interpretadas a partir de uma única concepção, assumindo um caráter excludente. Termos como "bárbaros", "primitivos" ou "selvagens", utilizados para a descrição de outras culturas e povos são marcas do etnocentrismo. Toma-se um modo de vida como referência e excluem-se os diferentes modos de vida.

Relativismo cultural é ideia de que o modo de vida de um determinado grupo pode não ser válido ou valorizado em outro sistema social. O relativismo cultural demonstra que os comportamentos humanos não são fundamentados na natureza, mas no desenvolvimento dos costumes.

Etnocentrismo Relativismo cultural
Significado Conceito antropológico sobre a ideia de superioridade de uma cultura sobre as demais. Conceito antropológico referente à ideia de diferentes culturas possuem modos de vida distintos, sem hierarquização.
Características
  • Sistema social padrão
  • Sentimento de pertença
  • Egocentrismo
  • Supremacia étnica
  • Intolerância
  • Tolerância
  • Assimilação das diferenças
  • Inclusão
  • Multiculturalidade/Interculturalidade
Críticas Desrespeito às diferenças, intolerância e a leitura autocentrada do mundo. O relativismo pode levar ao esvaziamento de valores universais, à permissividade e ao desrespeito aos direitos humanos.

O que é etnocentrismo?

Etnocentrismo é um termo desenvolvido pela antropologia que critica a leitura de mundo centrada na perspectiva e no modo de vida de um grupo social ou cultura.

A própria antropologia surgiu da intenção dos povos europeus de estudar as organizações sociais dos povos originais das colônias e nas terras recém descobertas.

Esses estudos eram feitos partindo da perspectiva de que a cultura europeia era o ápice da civilização humana, enquanto os outros sistemas sociais eram medidos em função desse parâmetro. Assim, diferentes povos eram classificados como mais ou menos civilizados.

Muitos desses povos originais, com diferentes graus de complexidade, eram classificadas como primitivos ou bárbaros por seu modo de vida não estar adequado ao modo de vida das metrópoles europeias.

Pode-se dizer que o etnocentrismo possui a vantagem de fazer com que o indivíduo facilmente se reconheça como parte integrante de um grupo social, gerando um sentimento de pertença.

Entretanto, ao longo dos anos, o etnocentrismo assumiu o significado de qualquer leitura que reforce a superioridade de um grupo social sobre outro. Nessa perspectiva, toma-se como "normal" ou desejável um padrão e exige que outros grupos sociais se adéquem a esse padrão.

Assim, uma atitude etnocêntrica é uma forma de intolerância, de desrespeitos às diferenças e aos diferentes modos de vida e de organização social. Consiste em negar a grupos minoritários o seu direito à conservação de traços culturais próprios, o direito à liberdade religiosa ou às suas manifestações culturais.

O que é o relativismo cultural?

Relativismo cultural é um termo também cunhado pela antropologia como oposição ao etnocentrismo. Nele, discute-se a posição relativa entre o "nós e os outros", que varia de acordo com o ponto de vista.

No etnocentrismo, a posição do "nós" é fixa, parte sempre do grupo que se compreende como superior. Para o relativismo cultural, qualquer sistema social causará o estranhamento daquele que não está inserido. A posição do "nós" e dos "outros" é relativa.

Assim, deve-se tomar como base todo o percurso histórico, social e cultural de cada sociedade, respeitando suas diferenças e particularidades. A partir da perspectiva do relativismo cultural, exige-se o respeito aos diversos modos de vida e às diferentes formas de organização social.

Entretanto, as perspectivas relativistas também são alvos de críticas. A ideia de que todas as culturas são igualmente autônomas em sua construção social, não podendo ser alvos de críticas, pode gerar a concepção de que tudo é permitido, desde que fundamentado em uma cultura.

Assim, algumas práticas sociais podem ferir direitos e valores compreendidos como universais.

Por exemplo, em algumas sociedades patriarcais, as mulheres não possuem os mesmos direitos que os homens ou são comuns os casamentos infantis. Essa postura pode colocar em causa o relativismo cultural. É justo que mulheres possuam menos direitos que homens ou sejam colocadas em situações de opressão em função de costumes, ou construções culturais?

Antropólogos e sociólogos buscam responder a essas questões e encontrar uma terceira via, afastada do etno centrismo, mas sem cair em um relativismo radical.

Veja também a diferença entre:

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).
Outros conteúdos que podem interessar